sexta-feira, 8 de julho de 2011

Perspectiva dialógica das Interacções


“É comum a ideia de que a Escola desempenha um papel relevante na vida dos Alunos e dos Professores; a qualidade das relações interpessoais que nela se constroem não pode dissociar-se do desenvolvimento e consolidação das culturas de escola e da construção identitária dos agentes que nela participam.
Esta problemática é vasta. O seu espectro envolve dimensões que não se esgotam no âmbito de uma unidade curricular como a presente. Fizemos uma escolha e optámos por uma problemática importante, dado o seu papel na participação escolar dos alunos, na identificação das suas necessidades e interesses e na construção dos seus projectos pessoais: o acompanhamento tutorial.”

Sinopse

Em relação ao Tema 3, procedeu-se à exploração da abordagem dialógica das interacções privilegiando a dialéctica entre os Agentes, Intencionalidades em contextos educativos;
Posteriormente foram analisados os planos de interacção particulares, em âmbito educativo, como é o caso da acção tutorial.
Nesta temática, a Professora propôs uma análise de textos, e ainda pesquisa individual de outros recursos complementares, entre 18 a 20 de Abril e de 28 a 30 de Abril.
Por fim procedeu-se à discussão em fórum, fundamentada dos materiais trabalhados, entre os dias 02 a 07 de Maio.


Objectivos
Os objectivos do tema 3 são:
1) Explorar a abordagem dialógica das interacções privilegiando a dialéctica entre os Agentes, Intencionalidades e Contextos;
2) Analisar planos de interacção particulares, em âmbito educativo, como é o caso da acção tutorial


A tutoria

O conceito de tutor, agente metacognitivo, surge da teoria da actividade vygotskiana que monitoriza a actividade do aluno. A implementação do sistema de tutoria afirma-se perante os desafios do século XXI, devido ao facto da escola ser confrontada com uma desmedida diversidade cultural, social e ética, em que a sua gestão torna-se complicada.
A figura de professor tutor foi criada no artigo 36º do Decreto-Lei nº 115 : no âmbito do desenvolvimento contratual da sua autonomia, a escola pode, ainda, designar professores tutores que acompanharão, de modo especial, o processo educativo de um grupo de alunos.
A regulamentação da figura de o professor tutor surge, então, no artigo 10º do decreto Regulamentar nº10, no qual são dadas indicações sobre o seu perfil e sobre as suas competências:
1. A direcção executiva pode designar, no âmbito do desenvolvimento contratual da autonomia da escola ou do agrupamento de escolas, professores tutores responsáveis pelo acompanhamento, de forma individualizada, do processo educativo de um grupo de alunos, de preferência ao longo do seu percurso escolar.
2. As funções de tutoria devem ser realizadas por docentes profissionalizados com experiência adequada e, de preferência, com formação especializada em orientação educativa ou em coordenação pedagógica.
3. Sem prejuízo de outras competências a fixar no regulamento interno, aos professores tutores compete:
a) Desenvolver medidas de apoio aos alunos, designadamente de integração na turma e na escola e de aconselhamento e orientação no estudo e nas tarefas escolares;
b) Promover a articulação das actividades escolares dos alunos com outras actividades formativas;
c) Desenvolver a sua actividade de forma articulada, quer com a família, quer com os serviços especializados de apoio educativo, designadamente os serviços de psicologia e orientação e com outras estruturas de orientação educativa.

Normalmente o director de turma incrementa algumas das funções que seriam inerentes à figura do tutor, requerendo algum tempo para cumprir melhor esta tarefa de monitorização tutorial da aprendizagem.
A tutoria (mentoring) é um método muito utilizado para realizar uma interacção pedagógica, permitindo um desenvolvimento cognitivo e afectivo, entre o tutor e tutorando.

O tutor tem a função de acompanhar os alunos, orientá-los no sentido de enfrentar/resolver as dificuldades que eles têm na sua vida escolar/particular, motivá-los para a realização das tarefas que lhes são propostas, incutindo-lhes interesses.

As competências do Conselho de professores tutores são:
- Assegurar a articulação e normalização de procedimentos a adoptar na tutoria;
- Identificar necessidades de formação no âmbito da tutoria;
- Conceber e desencadear mecanismos de formação e apoio aos tutores e a outros docentes da escola;
-Propor e planificar formas de actuação junto de alunos, pais e encarregados de educação, professores e outras entidades.
As actividades do professor tutor com os alunos são:
-Explicar as suas funções e tarefas e dar ao aluno a oportunidade de participarem no programa de actividades e opinar sobre as questões que estão relacionadas com o grupo;
-Realizar entrevista individuais com os alunos (que podem ser informativas ou orientadoras ou tratar de outros pontos) sempre que se justifiquem;
-Aplicar questionários/metodologias de análise para diagnosticar as características dos alunos;
-Estimular e orientar os alunos para que exponham as suas necessidades, expectativas, problemas e dificuldades;
-Prepara com os alunos as provas de avaliação nas disciplinas em que revelam mais dificuldades e após os resultados deverão ser comentados e tomar decisões em caso de necessidade;
-Aprofundar o conhecimento das atitudes, interesses e motivações dos alunos , no sentido de os orientar nas suas decisões a nível de opções educativas e/ou profissionais;
-Promover e coordenar actividades juntamente com os Directores de Turma, os professores e os serviços especializados de apoio educativo, fomentando a consciência, a integração e a participação dos alunos, na vida escolar e no meio.
As actividades do professor tutor com os professores são:
-Preparar um Plano de Acção Tutorial (PAT) referente ao ano lectivo, referindo o grau e o modo de participação dos professores das disciplinas em que os alunos revelam mais dificuldades e os aspectos específicos e prioritários que o tutor deverá atender.
-Adquirir uma visão global sobre o programa, objectivos e aspectos metodológicos das várias disciplinas/áreas disciplinares.
-Transmitir aos professores todas as informações sobre os alunos que podem ser necessárias no exercício da função de docente.
-Colaborar com os Directores de Turma e os restantes tutores, principalmente com os do mesmo ciclo, no momento de definir e rever os objectivos, preparar materiais e coordenar o uso dos meios disponíveis.

As actividades do professor tutor com os pais/encarregados de educação são:
-Explicar as funções e tarefas da tutoria, solicitando aos pais/EE a sua participação na programação de actividades e exporem os seus pontos de vista;
-Promover/obter a colaboração dos pais/EE em relação ao trabalho pessoal dos seus educandos, organização d o tempo de estudo em casa, do tempo livre e do descanso;
-Preparar, em colaboração com os pais/EE, actividades extracurriculares, visitas de estudo e outros eventos;
-Reunir com os pais/EE sempre que seja solicitado ou quando o tutor considerar necessário, no sentido de resolver situações de inadaptação ou de insucesso;
-Coordenar grupos de debate sobre temas de interesse para os pais/EE, com a colaboração dos serviços especializados de apoio educativo.


O PAT- Plano de Acção Tutorial, é uma parte integrante do PCT -Projecto Curricular de Turma, em que o Conselho Pedagógico define as directrizes gerais e os critérios de elaboração. Os professores tutores procedem à sua elaboração, divulgação e discussão em Conselho de Turma. A implementação é monitorizada pelo Coordenador dos Professores Tutores.

A Teoria da Actividade (TA) é também conhecida por Teoria da Actividade Histórico-Cultural (CHAT) , teve um desenvolvimento a partir dos anos 20-30, sendo os principais investigadores Vygotsky e Leont’ev. Esta teoria tem raízes filosóficas no conceito de actividade de Marx, inclui o reconhecimento do papel e da importância do contexto histórico e cultural na compreensão do comportamento e desenvolvimento do ser humano e da sociedade.
Em relação à Teoria da Actividade podemos afirmar que "não inclui nenhum método descritivo para analisar as actividades de aprendizagem, nem nenhum modelo operacional para a concepção de ambientes de ensino nem nenhuma teoria da aprendizagem". Mas a Teoria da Actividade enquadra conceitos das teorias de orientação pedagógica. Segundo Engeström (1987) relacionou a Teoria da Actividade com a Teoria da Aprendizagem Expansiva, introduzindo o ciclo de aprendizagem expansiva, em que tem um papel de modelo analítico para análise do processo de aprendizagem. Vem reforçar a necessidade de padrões quando se estuda o processo de aprendizagem.
Tal como refere Teixeira, a Teoria da Actividade e a Teoria da Aprendizagem Expansiva, do ponto de vista pedagógico, têm objectivos comuns, tais como:
- Motivação dos actores envolvidos no processo de aprendizagem
- Contexto no qual se desenvolve a aprendizagem
- Relações existentes entre os participantes na actividade de aprendizagem
- Objectivos da actividade
- Dificuldade em prever os resultados exactos do processo de aprendizagem
- Utilização de ferramentas: “ Físicas: computadores, redes, telemóveis,...”Pedagógicas: aplicações desenvolvidas para ensino, entre outras.
- Importância da relação Professor - Aluno Contribuição destas Teorias para o Desenvolvimento do Ensino Assistido.


Vygotsky e a ZDP

Segundo Vygotsky," a forma inicial de actividade, que define a origem social do desenvolvimento humano," é concretização colectiva da actividade. Em primeiro lugar , a actividade é realizada por uma criança mas em grupo, só depois é realizada , a partir do desenvolvimento das funções mentais . A partir deste propósito, Vygotsky formulou uma lei fundamental da psicologia, a Lei Genética do Desenvolvimento psicológico e manifesta-se no campo de "zona de desenvolvimento potencial"(ZDP). Segundo esta lei as funções psicológicas do indivíduo desenvolvem-se em duas fases:
1ª Num plano interpsicológico - no plano social (entre sujeitos). São criadas condições para surgir a 2ª fase, mas pode não acontecer.
2ª- Num plano intrapsicológica.
A zona de desenvolvimento potencial de indivíduo (criança) é diferença entre o ser capaz de resolver um problema de maneira autónoma e resolvê-lo com ajuda de uma pessoa, ou ainda a pares mas com mais experiência. Nalgum momento do desenvolvimento, a criança só consegue resolver os problemas com ajuda/orientação de adultos e com a colaboração de colegas com experiência e não sozinhos. Daí que Vygotsky sugere que o desenvolvimento seja medido através da diferença entre os dois indicadores de desempenho (um indicador é quando resolve os problemas independente e autónomo e outro indicador é quando resolve mas com ajuda).
Vygotsky quando concebeu o conceito de ZDP pensou no indivíduo. Segundo o autor o desenvolvimento precisa de interacção social e colaboração, tendo a criança (no individual) o seu desenvolvimento. E ainda, a relação do indivíduo com o mundo é feita por meio de instrumentos técnicos e da linguagem.
Segundo Vygotsky, o primeiro contacto da criança com novas actividades, habilidades ou informações deve ter a participação de um adulto, pois a aprendizagem cognitiva é mais complexa, visto ser um processo de construção do conhecimento.
Tanto para Vygotsky, como para Piaget, a comunicação efectiva, é uma troca de sinais, que só pode acontecer quando há interacção entre os participantes.
Podemos encontrar semelhanças e diferenças entre Piaget e Vygotsky. Relativamente à semelhanças, ambos afirmaram que o conhecimento é um processo de construção pelo sujeito. A aprendizagem é explicada em parcerias construídas pelos alunos.
Ambos reconheceram o desenvolvimento da aprendizagem multideterminantes e irredutível e intrincada relação que estes dois processos uns aos outros. Ambos concordaram que é um processo de construção do sujeito.
Diferem no que respeita aos modelos cognitivos do conhecimento. Na abordagem Vygotsky o conhecimento evolui através das relações sociais e ambientes onde vivem as pessoas. Considera a actividade importante para a construção do conhecimento. O desenvolvimento cognitivo e de aprendizagem estão na re-construção de actividades ao ar livre.
Para Vygotsky, o desenvolvimento psicológico da criança, não é como para Piaget, estável, mas é flexível, pode ser alterado de acordo com o seu desenvolvimento interno de acordo com as suas estruturas cognitivas, segundo as suas informações e experiências e significados vindos do ambiente. O potencial de desenvolvimento de uma criança inclui, a área de circulação contínua ligando a capacidade de trabalhar com a capacidade da actividade.
Vygotsky, para explicar o modo como, em cada indivíduo, as relações sociais se convertem em funções psicológicas, recorreu ao conceito central de mediação. Valadares e Moreira (2009, p. 56) referem que para o autor a relação do homem com o mundo não é uma relação directa, mas uma relação mediada. O desenvolvimento assenta na relação homem/mundo mediada por sistemas simbólicos, sendo o sujeito ao mesmo tempo activo e interactivo e o seu conhecimento construído com base em instrumentos e sinais inerentes ao meio cultural.
O professor pode usar métodos para reconceptualizar o seu papel, destacando-se quatro pontos:
-"Actuar como um recurso e tutor/facilitador mais do que como dispensa de conhecimento" (Barrows,1996;Bridges,1992;Stinson&Miller,1996); A estrutura da classe e o poder mudam em vários sentidos, quando um professor fica com o papel de tutor/facilitador;
-"Criar ambientes de aprendizagem, permitindo aos aprendentes trabalhar em pequenos grupos (Barrows,1996);
-Formular questões para focalizar os aprendentes nos pontos importantes dos conteúdos e nos seus processos de aprendizagem (Barrows,1996; Savery & Duffy,1995);
-Providenciar instruções quando são necessárias e requeridas pelos aprendentes (Johnson &Johnson,1994).
Para Vygotsky, o ensino, deve se antecipar ao que o aluno ainda não sabe nem é capaz de aprender sozinho, porque, na relação entre aprendizado e desenvolvimento, o primeiro vem antes. O professor precisa de saber identificar as duas capacidades, ou seja, a zona de desenvolvimento proximal (caminho entre o que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de conseguir fazer sozinha) e trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas.
Ensinar um novo conteúdo, não quer dizer "aquisição de uma habilidade ou de um conjunto de informações", aumenta "as estruturas cognitivas da criança". Segundo Vygotsky,o professor tem um papel muito importante no ensino, deve ser mais activo e determinante no sentido e impulsionar o desenvolvimento psíquico das crianças e apresentando formas de pensamento.



Reflexão:

O tutor é alguém que é capaz de potenciar o projecto e sentido de vida do aprendente, cooperando para activar todas as suas potencialidades. Normalmente o contacto entre tutor e tutorando sujeita a um constante feedback que faculte o desenvolvimento cognitivo e afectivo, a confiança mútua, a reflexão e, logicamente, o desenvolvimento de habilidades do processo ensino-aprendizagem.
Para Vygotsky o conceito de zona de desenvolvimento potencial (ZDP) tem um papel principal, mais precisamente na forma como ele expõe a relação entre a aprendizagem e o desenvolvimento
De acordo com Vygotsky, a criança/jovem aprende melhor quando é confrontada com tarefas que impliquem um desafio cognitivo, que se situem na ZDP. Esta teoria tem implicações importantes no processo de ensino e de aprendizagem. O professor deve proporcionar aos alunos a oportunidade de aumentarem as suas competências e conhecimentos, partindo daquilo que eles já sabem, levando-os a interagir com outros alunos em processos de aprendizagem cooperativa. Assim, a particularidade da teoria de Vygotsky provavelmente esteja no realce que o autor dá ao papel dos contextos culturais e da linguagem no processo de aprendizagem.
Em relação à Teoria da Actividade, o conceito de Actividade é entendida como sendo uma interacção intencional entre o sujeito e o mundo, sendo encarada como a origem ou o motor do desenvolvimento histórico-social dos homens. Assim permite-nos compreender ao mesmo tempo, o sujeito e o objecto e ainda as várias interacções que se dão entre eles.


Fontes básicas:
- Documentos apresentados no espaço deste tema.
Ribeiro, E. et al (n.d.). A tutoria em contexto de ensino não superior: proposta de acompanhamento socioeducativo em equipa multidisciplinar. Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde. Documento disponibilizado on line.
Regimento de Tutoria da Escola Secundária de Odivelas (recurso disponibilizado on-line)
Teixeira, J.C. "Um Modelo Pedagógico para o Ensino Activo da Matemática"
Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra
Bruner, J. (1999). Para uma Teoria da Educação. Lisboa: Relógio de Água
-http://lchc.ucsd.edu/MCA/Paper/Engestrom/expanding/toc.htm


Fontes complementares:
- Gallego, S.; Riart, J. (coords.) (2006). La tutoria y la orientación en el siglo XXI. Nuevas propuestas. Barcelona: Ocatedro.
http://legislacao.min-edu.pt/np4/np3content/?newsId=1953&fileName=decreto_lei_75_2008.pdf
http://www.ige.min-edu.pt/upload/Legisla%C3%A7%C3%A3o/Dec_Lei_115-A_98.pdf
http://www.esenviseu.net/Principal/Legislacao/Download/14/33.pdf
http://www.cfaematosinhos.eu/Tutoria…Tutorias_05.pdf
http://www3.uma.pt/carlosfino/publicacoes/11.pdf
Ozarfaxinars, e-revista nº 5 O papel do professor-tutor disponível em www.fd.pt/linkclick.aspx?link=534&Tabid=511
http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=103762311B483A1FE0440003BA2C8E70&channelid=0&schemaid=&opsel=2
Ribeiro, E. et al. A tutoria em contexto de ensino não superior: proposta de acompanhamento socioeducativo em equipa multidisciplinar. Disponível em http://www.ipv.pt/millenium/Millenium38/12.pdf. Consultado em Maio 2011.
http://www.cfaematosinhos.eu/Proposta_Plano_AT.pdf
Valadares, J. & Moreira, M. (2010). A teoria da aprendizagem significativa. Sua fundamentação e implementação. Coimbra: Edições Almedina, SA.
Gaspar et al. (n.d.). Paradigma Interpessoal. Lisboa: Universidade Aberta
http://pparticipar-t-act.wikispaces.com/teoriadaactividad

www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=1174

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